segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A primeira vez é inesquecivel.

Todas as tardes eu saia do trabalho e ele estava ali, de “braços” abertos pra mim e eu passava sempre apressada apenas espiava-o com curiosidade e ansiedade, mas sabendo que não tardaria a chegar o momento em que não mais poderia fugir de nosso encontro.
Naquela tarde ensolarada dentro do escritório, olhei pela janela e o vi lá embaixo a me esperar. Observando assim, senti aquele friozinho na barriga, sabe? Aquela ansiedade por novidades?  Resolvi que seria naquele dia nosso primeiro encontro!
Saí do trabalho, desci no elevador sem parar de pensar um só momento nele. Nas promessas que me fazia em silêncio, quando eu observava-o pela janela. Cheguei à calçada atravessei a rua e fui em sua direção, enfim as portas de vidro e madeira eram pesadas, mas muito charmosas, seu cheiro era inebriante, eu não parava de respirar fundo a fim de absorver o máximo daquele odor magnifico tão familiar e ao mesmo tempo tão saudoso, me lembrava um pouco a biblioteca da escola onde estudei no ensino médio.
Quando ultrapassei a barreira a porta, assim que o vi, fiquei maravilhada com seu tamanho. O que por fora parecia ser tão compacto, por dentro revelou-se enorme, superou todas as minhas expectativas.  As paredes revestidas com prateleiras de livros do chão até o teto, por todos os lados, mesas de centro cobertas de livros, sofás convidativos para leitura. O cheiro de incenso no ar misturando-se com o perfume dos livros, os sons do penduricalho na porta, a anunciar que alguém chega ou alguém parte.
 Não sabia para onde olhar tamanha era a oferta, escolhi um toquei nele, abri-o aleatoriamente em várias páginas, lia um trechinho de cada uma. Tantas histórias, tanta magia, tantas realidades, tudo ali impresso em papel para ser dividido com quem se interessar.
Para mim os livros são como mágica. É a melhor invenção da história da humanidade. Papel que nos dá conhecimento, prazer, esperanças, nos faz viajar, enriquece nossa imaginação, nos comove e nos faz sonhar.
Assim foi a minha primeira visita a um sebo, situado na conhecida “rua da ladeira” no centro de Porto Alegre, há três anos, vivi esta experiência, até então só havia entrado em livrarias com livros novos, que são maravilhosas também. Mas nenhuma tem o ar de paixão que tem em um sebo, não é só comercial, não tem só o objetivo de vender o livro. Um sebo tem paixão pelos seus livros e transmite isso com você visitante.
Curiosamente apesar de ter adorado esta minha primeira vez, nunca mais tinha voltado a entrar novamente em um.  Mudei de emprego, e nunca mais o vi... Agora de volta a Porto Alegre, nesta ultima sexta feira, saí do trabalho e fui ao seu encontro novamente, foi como se nunca tivesse saído de lá, toda a emoção sensações se repetiram.
É uma paixão doce, eterna...
Abaixo um poema que conheci ao sentar-me naquele convidativo sofá do Sebo, com poesias reunidas de Florbela Espanca nas mãos, eu li:
RÚSTICA
Eu q’ria ser camponesa;
Ir esperar-te à tardinha
Quando é doce a Natureza
No silêncio da devesa,
E só voltar à noitinha…

Levar o cântaro à fonte
Deixá-lo devagarinho,
E correndo pela ponte
Que fica detrás do monte
Ir encontrar-te sozinho…

E depois quando o luar
Andasse pelas estradas,
D’olhos cheios do teu olhar
Eu voltaria a sonhar,
P’los caminhos de mãos dadas.

E depois se toda a gente
Perguntasse: “Que encarnada,
Rapariga! Estás doente?”
Eu diria: “É do poente,
Que assim me fez encarnada!”

E fitando ao longe a ponte,
Com meu olhar cheio do teu,
Diria a sorrir pro monte:
“O cant’ro ficou na fonte
Mas os beijos trouxe-os eu…

Uma excelente semana!
Grande beijo!

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